UM GATO NO JARDIM
Tenho esquilos que disputam comigo a apanha de nozes... um veado atrevido que salta os muros...ainda não percebi muito bem como.
Tenho aves que cantam e encantam... (sorte de quem conhece a sábia " linguagem dos pássaros"!) e saltitam de arvore em arvore saboreando a Natureza em verdadeira liberdade... indiferentes à minha presença.
Mas se não tenho gatos...tenho um gato de um vizinho/ velho e bom Amigo, recentemente internado, que se empoleira junto ao portão e faz de sentinela atenta a tudo o que se passa lá fora.
Bonito. Silencioso.
De andar calmo, atrevido...demarcando terreno... acaba por já fazer parte da minha vida.
De uma coisa começo a estar certa - não fui eu que o adoptei...foi ele que me adoptou a mim!
Raiado de castanho lembra-me "El Gato" de Pablo Picasso.
Traz-me, igualmente, à memória um belo poema de Jorge Luís Borges que não lia há muito.
UM GATO
Não são mais silenciosos os espelhos
Nem mais furtiva a aurora aventureira;
Tu és, sob a lua, essa pantera
que divisam ao longe nossos olhos.
Por obra indecifrável de um decreto
Divino, buscamos-te inutilmente;
Mais remoto que o Ganges e o poente,
É tua a solidão, teu o segredo.
O teu dorso condescende à morosa
Carícia da minha mão. Sem um ruído
Da eternidade que ora é olvido.
Aceitaste o amor desta mão receosa.
Em outro tempo estás. Tu és o dono
de um espaço cerrado como um sonho.
BOM FIM DE SEMANA!
Imagens: Arquivo obras de Pablo Picasso.