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Fragrâncias

Perfumes, Práticas e Discursos

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Perfumes, Práticas e Discursos

A PROPÓSITO DO TEATRO DA ÓPERA DO TEJO

 

 
 Á CONVERSA COM O ARQUITECTO PEDRO JANUÁRIO
 

O século XVIII em Portugal foi um dos períodos mais interessantes em termos de construção arquitectónica e importação de novas ideias. A possibilidade oferecida pelas riquezas das Índias Ocidentais permitiu a contratação pela coroa de valiosos artistas que foram o elo difusor de tais ideais. Reflexo dessas novas tendências culturais foi a educação dos príncipes portugueses no primeiro quartel do século XVIII, durante o reinado de D. João V, onde o gosto pela música foi intensamente incrementado.

  

"Com a subida ao trono de D José I em 1750, o desejo de materializar o gosto pelos espectáculos de ópera à italiana suscitou a real aspiração de construir um teatro digno de qualquer grande capital europeia. É dentro deste contexto que surge a contratação de um Galli Bibiena, herdeiro de uma das mais afamadas famílias de arquitectos teatrais e cenógrafos de todo o século XVIII, família essa que serviu com reconhecido mérito nas principais cortes da Europa.", diz Pedro Januário. 

  

  

Referido como um dos mais belos, sumptuosos e luxuosos teatros de ópera à italiana no século XVIII, teve a infelicidade de ser destruído pelo terrível Terramoto de 1755. Contudo, e apesar de sua efémera existência de sete meses, permaneceu na memória colectiva da cidade de Lisboa e nos autos dos grandes teatros à italiana concebidos pelos Galli Bibiena. Mais do que uma obra de referência, a Ópera do Tejo é uma materialização de um propósito político.
"Localizada na margem direita do rio Tejo, a Casa da Ópera, como então era designada, estendia-se longitudinalmente a oriente, pelo desde o Arco do Ouro, ou Arco da Ribeira das Naus, próximo ao Quartinho Novo do Palácio da Ribeira; a ocidente, pelo Beco da Fundição e o picadeiro da casa do Infantado. A norte era limitado pela Rua do Arco dos Cobertos e a sul pela Ribeira das Naus. Media, de acordo com o relato do Tombo de Lisboa de 1758, ao longo da sua extensão 108 varas, 4 palmos e 4/10, aproximadamente 119.768 metros. Segundo uma descrição publicada por Camilo Castelo Branco, a partir de uma testemunha coeva, a ligação do Paço real com o teatro far-se-ia através de uma varanda ricamente ornamentada".

 

"A sala do teatro tinha uma capacidade para aproximadamente seiscentos espectadores, trezentos e cinquenta na plateia e os restantes distribuídos pelos trinta e oito camarotes ao longo das quatro ordens.
Esta organização do teatro centrada no eixo tribuna real–arco do proscénio dominava todo o teatro e toda a cenografia. Esta última, calculada em função do ponto do príncipe (lugar do monarca na tribuna real) e recorrendo a técnicas de anamorfose, pretendia transmitir a ordem, a harmonia e a perfeição geométrica.
 
Esta técnica não é só aplicada aos cenários mas também à decoração do tecto da sala, o qual era sustentado, segundo o projecto preliminar, por colunas compósitas de ordem gigante, tão ao gosto da família Galli Bibiena.
 Outra das suas características era a proporção de 1:3 da Sala em relação ao Cenário, que permitia ao longo dos seus quinze bastidores criar efeitos de perspectivas deslumbrantes".

 

                                   

                                                                                                                         

 

 

NOTA: Pedro Januário é arquitecto e Professor Universitário da Faculdade de Arquitectura de Lisboa. A sua tese de Doutoramento (Madrid) versou sobre o TEATRO DA ÓPERA DO TEJO. Todos os desenhos apresentados neste post, são reconstituições tridimensionais por ele criadas. Vale a pena dar uma "olhada" ao site.