PRAIA DAS ROCAS
Ao longe, a Serra da Lousã...
Quando era pequena rumava para a praia da Figueira da Foz. Eu e quase todo o centro do país, mais uma verdadeira colónia de espanhóis que "ocupavam" quase toda a rua da Fonte e as zonas envolventes do casino e Páteo das Galinhas. Eram mais exuberantes no falar, no rir e no vestuário do que a maioria dos portugueses que "iam a banhos".
O barulho e o movimento das ondas sempre me fascinaram bem como a nebelina, habitual na costa Atlântica, que despertava a minha imaginação infantil. O que esconderia?
O cheiro do mar sempre me envolveu e despertou emoções e, quando a vida me prega uma partida ou me sinto triste, tenho o remédio correcto: ouvir e sentir o mar...deixar-me envolver pelas suas cadências que soam a música aos meus ouvidos. ( Já experimentou? Não hesite. Não se vai arrepender).
Praia e mar foram uma constante na minha vida. Continuo a visitá-los faça sol ou chuva, esteja calor ou frio. Um verdadeiro ritual de reharmonização com o mundo que me rodeia. Ali fico em paz. Respiro paz.
Isto tudo a propósito de algo que, na minha infância, muita gente crescida acharia "artes do demo". Passo a narrar.
Numa visita a Castanheira de Pêra, vão lá 3 ou 4 anos, tomei conhecimento que iria ser construida ali - no coração da Serra da Lousã - uma praia fluvial com ondas (Não me espantou. Costumo dizer que se vir um porco a voar...vejo se é real e não uma ilusão óptica...e rendo-me à evidência....)
Fonte de inspiração? Japonesa , pois claro.
Como por ali, terra pequena, todos se conhecem e todos "são primos e primas" fui saber "detalhes" junto do mentor da ideia, o então Presidente da Câmara.
Lembro-me que lhe disse " Se o intuito era colocar a nossa terra no mapa do turismo estival, parece-me que acertaste em cheio..." Acenou com a cabeça e continuei: "Tens consciência das mudanças radicais que isto vai trazer a esta zona serrana?!"
Pensava eu - e pensava bem, digo sem modéstia - , que não tardaria as mini saias mais arrojadas e os decotes mais generosos não fariam voltar uma cabeça conservadora... porque os shorts, pareos, tangas, biquinis e fatos de banho iriam invadir a vila e as serras.
Não me enganei. Hoje quando atravesso a vila dou comigo numa fila de carros de alta cilindrada e jipes,
deparo com gentes que, em trajo de praia, fazem compras nos mercados locais ou cavaqueiam nas esplanadas que por ali abriram. Lugar para o carro? ...tem horas.
As lojas - sejam elas chinesas ou não -, anunciam os seus produtos: bóias, fatos de banho, chapés de sol, toalhas de praia, esteiras. Bem visíveis. Pendurados no exterior.
As noites quentes convidam a sentir os aromas da serra e dos campos - e que aromas fantásticos se sentem por ali! -, acenam a beber um copo com os familiares e amigos, ao dolce fare niente.
Castanheira de Pêra mudou nos últimos anos. Creio que para bem. Creio, também, que os projectos vão ter de sair das gavetas para trazer a este local
outros interesses culturais. Só assim, esta bela terra de florestas e riachos ( ...e praia com ondas), pode ser um local a inscrever nos roteiros turísticos ao longo dos 12 meses do ano.
Tenho a confessar uma coisa: nunca visitei a Praia das Rocas, nunca mergulhei nas suas águas, nunca li um livro estendida nas suas espreguiçadeiras. Razão? Santos da porta não fazem milagres...ou sinto a falta dos perfumes que o mar anunciam, e que alguns perfumistas já "clonaram" para integrar nas suas fragrâncias.
Quem sabe um dia, quando as férias, dos muitos que visitam Castanheira de Pêra, estiverem a chegar ao fim resolva dar um mergulho nas ondas artificiais, bebericar um sumo à sombra de uma palmeira.
Por agora, fico-me pelo sossego e acolhimento das sombras de algumas árvores centenárias que por aqui existem
BOAS FÉRIAS!