(RE)COMEÇAR AOS SESSENTA (3)
Tenha uma noite descansada” disse-me uma visita da Maria Teresa no final de um serão bem animado onde a canasta e o King não faltaram.
Não jogo desde a juventude. Limitei-me a ser espectadora.
Ofereci-me para ir enchendo as chávenas com uma infusão de laranja e jasmim e “tentar os espíritos” com uma fatia de bolo de chocolate e um pudim de ovos.
Esta frase simples mas carregada de sentido fez-me recuar no tempo e lembrar as saudações que ouvia na infância e que as grandes cidades foram perdendo - “Bom dia”…“Tenha uma noite descansada”….”Bons sonhos”… “Tudo de bom para si”, ”Como está?” “Saúde”. "Vá com Deus".
Estas pequenas frases, mais do que mera cortesia, revelam alguma proximidade/cordialidade entre as pessoas.
Conheçamos ou não quem se cruza connosco sabemos que ouviremos uma saudação adequada ao momento.
Palavras simples, acompanhadas ou não por um sorriso, podem ter um efeito benéfico no nosso dia-a-dia.
Quem sabe “quebrar um pouco do gelo que a solidão” semeia por aí.
São estes “pequenos” detalhes que tornam a vida no campo diferente, mais humanizada.
Claro que existe o reverso da medalha – o “saber ou procurar conhecer a vida para além das paredes de qualquer casa”.
A Maria Teresa, mais sábia nestas coisas afirma: “tenho a certeza que me batem à porta a saber se estou bem se virem as janelas fechadas a horas inusitadas”. Dou-lhe razão.
Acontece o mesmo, por certo, nas pequenas aldeias portuguesas.
Em Lisboa, muitas vezes dei por mim a pensar: vivemos no mesmo prédio, cruzamo-nos nos elevadores e, frequentemente, não sabemos o nome das pessoas.
É raro ouvirmos uma saudação.
A relação entre pessoas quase não se estabelece…somos estranhos mesmo estando próximos.
Em casa ou no trabalho.
Terá que ser assim?
Até amanhã.
Um abraço