(RE)COMEÇAR DEPOIS DOS SESSENTA
A serra amanheceu e adormeceu coberta de neve. Lindo de se ver.
Antes do almoço, fomos dar um passeio pela quinta.
Frio? Sim. Apesar do sol que dava ao local uma maravilhosa luz outonal.
(Confesso que não trouxe a roupa adequada… esqueci, também, o gorro de lã, as botas quentinhas para andar no campo…as luvas…
Tudo se resolveu… Existe um baú com algumas peças a “usar” por quem, no Outono ou Inverno, se distrai a fazer o saco de fim de semana.
Uma tradição familiar. A “copiar”, diga-se).
A Maria Teresa, engenheira, deixou Barcelona para se instalar na casa de família, e reanimar/reviver as tradições locais. Vão lá uns cinco anos.
A vida empurrou-a para esse regresso.
Perdido o posto de trabalho, arregaçou as mangas e decidiu não se deixar vencer pelo desanimo.
Lembrou-se que a quinta podia ser mais do que uma “abrigo” para férias ou fins de semana.
Se melhor pensou…melhor o fez.
Adaptou-se bem. Vive com tranquilidade e “já lhe custa” ir à cidade (Barcelona, Saragoça e Toulouse) visitar os filhos e netos.
Adora conviver com a Natureza e, rapidamente, aprendeu a respeitar os seus ciclos. A viver ao seu ritmo.
(Re)aprendeu a partilha, a troca de géneros, a apanha e secagem de ervas aromáticas ou frutos que recordam a sua infância e adolescência.
Tem tempo, muito tempo, diz, para fazer as tarefas caseiras e dedicar-se à pintura e leitura.
Para escrever e gerir a quinta, acrescento eu.
Deixou de estar pressionada pelas notícias, pelos “comentários de analistas nada imparciais”.
Segue os serviços de meteorologia, que complementam os conhecimentos que foi adquirindo no contacto com a Natureza, ou com os pastores e agricultores. “Deve ouvir-se a Natureza”, diz.
Recorre à internet em dose q.b. e deixa-se “embalar pela música” que escolhe criteriosamente.
Por vezes, senta-se num banco de jardim, gorro, manta nos joelhos e luvas a ouvir os sons que a serra lhe traz. Uma forma de meditação que a “liga” a todos os seres e universo.
Descobrir a quinta com a Maria Teresa revela-se um momento mágico.
Aprende-se a ouvir a sua linguagem, a sentir os aromas que a brisa vai revelando.
Esquece-se o frio, o stress…o toque do telemóvel , os horários a cumprir.
Até amanhã.
Um abraço