RIVE GAUCHE
Rive Gauche é um dos bairros de Paris, conhecido pelo seu espírito vanguardista, direi mesmo, um espaço de “livres pensadores”. Uma zona onde as livrarias tradicionais e modernas proliferam, onde a população estudantil misturada com os turistas, frequenta os bistrot, os pequenos bares…a Escola de Medicina, a Sorbonne, os jardins de Luxemburgo…
Confesso que é o meu bairro preferido. Apaixonei-me por ele em 68, pouco depois do Maio quente, que por ali se viveu. Dali parto, ainda hoje, para outras incursões olfactivas e não só. Ali regresso, para percorrer as suas ruas, fazer uma refeição ligeira, sentir a
moda que as boutiques anunciam ou, simplesmente saborear o "dolce fare niente" que uma esplanda oferece...
Foi este bairro, na margem esquerda do Sena, que Yves Saint Laurent escolheu para abrir a sua primeira boutique, em 1966, numa época em que os Costureiros escolhiam a margem oposta e as suas zonas “nobres” – Av. Montaigne, Georges V, François I, os Champs Elysées, a Place Vandôme…
Uma boutique visionária para a época, onde a sua primeira colecção de pret-à-porter , Rive Gauche, estava patente e se tornou a meta de uma sociedade em mutação. Mesmo que nada pudesse ser comprado.... Tive a sorte de me oferecerem um lenço em seda que ainda hoje guardo.
Creio que a minha paixão por Yves Saint Laurent começou nessa visita a Paris. Cresceu ao longo dos anos. Reforçou-se quando o conheci. Mantem-se.
1971, estabelece um marco na Maison Yves Saint Laurent – o lançamento da segunda fragrância
feminina, que seguia a mesma filosofia “ ready-to-wear line – e que foi baptizada de Rive Gauche. Uma fragrância, que capta este “daring”, este espírito avant-garde, e que tinha como público alvo a mulher independente, emancipada. Com espírito aberto às mudanças que os tempos anunciavam.
Direi mesmo que, Rive Gauche, mais do que uma fragrância é uma bandeira em que as palavras liberdade, sensualidade, provocação, emancipação, igualdade de direitos e deveres estão inscritas.
Rive Gauche, é reflexo do espírito de Yves Saint Laurent, o homem que, correndo mais depressa do que o vento, destruía tabus e preconceitos, ensinava as mulheres a "assumirem" o seu corpo, a gostarem de si. Incondicionalmente.
“Rive Gauche isn't for the faint-hearted!”, era o lema proposto.
O aroma, o frasco, a cartonagem…nada foi deixado ao acaso o que contribui para que « virasse » acessório indispensável à mulher emancipada.
Quem da minha geração não o terá usado ?! Afinal fazia parte da "Rive Gauche", do espírito idealista - por vezes, um tanto utópico -, que deu vida a uma geração de valores autênticos e de lutas pelo seu reconhecimento.
O aroma
A fragrânica, classificada como um floral-aldehyde, pode definir-se com três palavras simples : intemporal, vibrante e ultra-feminina.
O seu percurso olfactivo revela um verdadeiro processo iniciático : nas notas de saída os aromas inconfundíveis da bergamota, ylang-ylang e frésias a que se adicionou uma pitada de aldehydes,
Depois…a explosão do rosa e do jasmim, as flores da feminilidade e da sedução. As notas de base trazem-mos os aromas quentes, envolventes e sensuais do musgo, musk e vétiver.
Esta simbiose perfeita de aromas de origens bem diversas, contribuíram, por certo, para Rive Gauche, virasse um clássico da perfumaria do século
XX…e XXI.
Cortar com a tradição
O frasco e a cartonagem rompem com os cânones tradicionais dos "Parfums Haute Couture"... com o gesto "haute couture" de nos perfumarmos.
As cores do frasco são fortes, irreverentes, como o próprio Yves Saint Laurent e os tempos que antecipa. Azul, preto, prateado, uma trilogia cromática que "fixa" um aroma intemporal.
O que diz o seu criador
"The aldehydes in rive gauche give an opening that is as fresh and impertinent as the woman this fragrance embodies."
Jacques Polge
Perfumista