POR TERRAS DA BEIRA LITORAL
AROMAS, CORES, HARMONIA
Esta ribeira - a de Pêra - outrora alimentou muitas fábricas de lanifícios que se localizavam ao longo do seu curso.
Castanheira de Pêra foi, durante décadas, o terceiro centro da industria de lanifícios de Portugal.
Ali se “criava/ditava moda no que dizia respeito a cores, padrões e texturas”.
A crise - não esta ! - e a "invasão gradual" de tecidos a baixo custo, oriundos do Oriente, levaram a que as fábricas fechassem umas atrás das outras. Hoje, ao que sei, restam duas.
A Castanheira tentou "acompanhar os tempos" e virou-se, acertadamente, para o turismo.
Infelizmente, só o turismo estival foi contemplado.
Aqui se instalou a Praia das Rocas, uma piscina gigantesca onde as ondas, tal mar, rebentam cadenciadas para delícia de miúdos e crescidos.
Nunca lá fui. Nem para tomar uma bebida fresca.
Prefiro a Praia Fluvial do Poço Corga, o aproveitamento de uma queda de água natural, entre as Fábricas do Bolo e da Várzea.
De quando em quando paro por ali o carro, retenho algumas imagens e, sobretudo, consigo recuar no tempo.
O “Poço Corga” foi ponto de referância para a juventude castanheirense, nos Anos Sessenta e Setenta.
Nas "férias grandes” - e depois do regresso da Praia da Figueira da Foz - , por ali nos quedávamos.
Uns liam, outros jogavam canasta, outros nadavam…
Um lanche "partilhado e construído por todos" era o momento alto da tarde.
A conversa alargava-se, os sonhos partilhavam-se – “mudar o mundo” era conversa recorrente.
Mas não só.
Combinavam-se os “bailes de garagem” em que Adamo, Brell, Charles Aznavour, Piaf e Françoise Hardy eram reis.
Castanheira de Pêra, a sua ribeira, riachos, arvoredo e penhascos de ardósia e xisto é bonita.
Tem locais em que os olhos se banham perante uma beleza que a memória deseja reter...
Vive-se, por ali, um silêncio profundo, cortado pelo saltitar da água de pedra em pedra, pelo sino que anuncia as horas ou chama os devotos à oração... pelo chamamento que uma mãe faz ao filho entretido a jogar à bola...
Ali, o tempo parece adquirir outro ritmo.
É se feliz porque a Harmonia da Natureza impera, sobrepondo-se a tudo. Quer queiramos ou não.
Pena tenho é que não tivessem levado por diante o Museu da Indústria de Lanifícios.
Seria um museu vivo onde os mais novos poderiam descobrir “como se cria um tecido, desde a lã ao fio e deste ao tecido que serve de alimento à indústria da confecção". Arqueologia industrial, diziam os técnicos da Universidade das Beiras.
Ninguém os ouviu.
Porquê? Vã lá saber-se...
À entrada do Concelho de Castanheira de Pêra, uma frase:
" Tão fácil chegar...tão dificil partir"
Assim é na verdade, podem crer.
BOAS FÉRIAS
Um abraço